Os cubanos estão recebendo uma mensagem nada agradável de suas autoridades para 2010: apertar ainda mais os cintos no consumo pessoal e produtivo e aumentar a economia de energia, uma vez que a crise está cada vez mais severa. Ao convocar seus afiliados para discutir o plano e o orçamento de 2010, a Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC, única) destacou que é necessário "apertar o cinto", pois "a crise mundial mantém duros efeitos".
Os apelos à austeridade, normais em Cuba, têm desta vez um elemento que reforça a incerteza: pela primeira vez, os trabalhadores não terão à disposição os "números preliminares" do plano e "terão que se ajustar aos recursos limitados que poderão chegar às suas mãos", indicou a CTC. Por outro lado, as autoridades reforçaram as estritas medidas de consumo energético nas entidades públicas impostas em maio, e através da mídia oficial exortam a população a economizar para evitar apagões.
"Será necessário abrir novos furos no furo, que já está bastante apertado", disse um funcionário, que pediu o anonimato, referindo-se aos dois ajustes aplicados pelo governo este ano, que reduziram a meta de crescimento econômico de 6% para 1,8%. Desde maio, economistas como Pavel Vidal alertam que o Produto Interno Bruto (PIB) cubano de 2009 pode ser negativo pela primeira vez em 16 anos, após uma desaceleração de 12,1% em 2006 para 7,3% em 2007 e 4,3% em 2008.
As autoridades identificam as causas da crise na queda brusca dos preços do níquel, principal produto de exportação da ilha, nos preços mais altos do combustível e dos alimentos que o país importa, na diminuição da renda do turismo e nos 10 bilhões de dólares em prejuízos deixados pela passagem de três furacões em 2008, além dos efeitos do embargo americano.
Segundo o Escritório Nacional de Estatística (ONE), a renda proveniente do turismo foi de 1,28 bilhão de dólares entre janeiro e setembro, cerca de 170 milhões a menos (11,6%) em relação ao mesmo período de 2008. O ministro cubano do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca, disse que o intercâmbio de bens de Cuba com outros países caiu 36% até setembro, e que desta queda 80% corresponde a cortes de importações.
O comércio exterior de Cuba em 2008 foi de 18 bilhões de dólares, segundo dados oficiais. Esta diminuição brusca das importações se refletiu imediatamente no desabastecimento das lojas, de onde desapareceram vários produtos importados e mesmo da manufatura nacional, diante da escassa liquidez para importar matérias-primas e insumos. "Não há dinheiro nem para peças de reposição", disse à AFP uma funcionária de uma importadora de meios de transporte.
Fonte: AFP