Às vésperas do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim, cerca de 40 países de todos os continentes guarda um pedaço da fronteira que dividiu Berlim e o mundo da Guerra Fria durante 28 anos. A barreira de concreto foi erguida pelas tropas da antiga República Democrática Alemã em agosto de 1961, para cercar Berlim Ocidental e frear o êxodo dos cidadãos da parte oriental à região mais próspera.
Com 120 km de extensão, 43 deles contíguos com o Leste, o muro contava com reforçadas medidas de segurança, alarmes de detecção de contato com o solo, cercas elétricas e mais de 300 torres de vigilância. Após a derrubada oficial, os turistas iniciaram um trabalho de pássaro carpinteiro. Eles queriam levar para casa um souvenir do monumento e acabaram deixando muito pouco do paredão na capital alemã, que ainda serve para lembrar as vítimas de sua travessia --cerca de 200.
Junto ao Portão de Brandemburgo, na antiga passagem fronteiriça do Posto de controle Charlie, no complexo que se conhece como Parlamento das Árvores, ao lado do monumento comemorativo de Günter-Litfin, na rua Bernauer Strasse, fica o atual pedaço mais longo do Muro --na famosa East Side Gallery. O livro "Die Berliner Mauer in der Welt" ("O Muro de Berlim no Mundo", em tradução livre) escrito por Ronny Heidenreich e Anna Kaminsky e editado recentemente pela Fundação Federal Bundesstiftung Aufarbeitung aponta que existem restos do Muro em cerca de 40 nações.
Da Guatemala aos Estados Unidos, passando pelo Japão, os lugares menos improváveis do planeta preservam parte da memória alemã e compraram um fragmento do símbolo, apesar do alto custo do transporte das peças, na maior parte pesando toneladas. Organismos internacionais como o Parlamento Europeu em Bruxelas e o edifício principal das Nações Unidas, em Nova York, são alguns deles.
Outras peças do quebra-cabeças do terror foram parar em lugares simbólicos, como o International Trade Center de Washington, o Museu Nacional das Forças Armadas de Londres, e a livraria presidencial Ronald Reagan, situada no alto de uma colina na cidade de Simi Valley, na Califórnia. Até mesmo em lugares mais comuns e transitados, como a estação de trem de Mônaco e o campus da Universidade John Hopkins, em Washington D.C. exibem um pedaço.
Em muitos casos, os fragmentos foram doados pelas autoridades germânicas, como o dado ao papa João Paulo 2º em 1990, enquanto outros foram comprados por quantias astronômicas. De qualquer forma, entre os novos proprietários estão colecionadores de arte, antigos presidentes dos EUA e economistas. Nas mesmas proporções internacionais como se espalhou pelo mundo os restos do Muro, serão as festividades pelo 20º aniversário da queda. Muitas cidades quiseram realizar festividades próprias, somando-se às que serão realizadas em Berlim nesta segunda-feira.
Em Los Angeles, por exemplo, será apresentado "The Wall Project", para o qual foram transferidas oito peças de Muro em outubro passado. Os destroços serviram de inspiração para artistas como o francês Thierry Noir e o americano Kent Twitchell, e serão exibidos no próximo domingo no Boulevard Wilshire, partindo a avenida em duas, seguindo o exemplo da divisão da Alemanha.
Fonte: Patrícia Baelo/EFE