sábado, 21 de novembro de 2009

Exame antidoping: Brasil reformula lista e método

No fim de uma temporada marcada por escândalos no esporte brasileiro, a Comissão Nacional de Combate ao Doping já se mexe para 2010. No início da semana, os membros da entidade se reuniram com os integrantes do Ministério do Esporte para definir algumas mudanças e apresentar reivindicações para melhorar o procedimento dos testes. A primeira medida foi a formatação da lista de substâncias e métodos proibidos no país, que segue os padrões da Wada (Agência Mundial Antidoping) e será submetida hoje ao Conselho Nacional do Esporte.

O principal ponto será a análise e a inclusão de mais detalhes dos fatores de crescimento --substâncias produzidas naturalmente no organismo, mas que são trabalhadas em laboratório e podem ser utilizadas para alterar características dos músculos, vascularização, capacidade regenerativa e mudança do tipo de fibras-- para acelerar o processo de recuperação ou melhorar a performance dos competidores.

A utilização de fatores de crescimento já foi detectada em alguns atletas, principalmente em equipes de futebol. "Em uma cirurgia de joelho, por exemplo, pode ser retirado o sangue do atleta e consolidado para acelerar o ritmo da reabilitação. Isso já seria um método contraindicado", afirmou Eduardo De Rose, médico presidente da comissão nacional.

"O hormônio GH [de crescimento], por exemplo, eles depuram e sintetizam, para aumentar o músculo. Antigamente, o procedimento não era considerado doping", disse Fernando Solera, médico responsável pelo antidoping da Federação Paulista de Futebol. Muitas vezes, os exames são feitos após uma denúncia anônima, como no maior caso de doping sistemático do atletismo do país, com cinco testes positivos para EPO, em junho.

"Em alguns casos, pode ser até um juiz ou um colega de trabalho que avisa", disse Solera. No Brasil, no entanto, os fatores de crescimento não são tão utilizados, até mesmo pela falta de conhecimento da tecnologia ou pelo alto custo. "Agora, a gente tem recorrente a creatina, que era moda no exterior em 1996. As coisas aqui não são tão rápidas. Em geral, os atletas usam métodos ultrapassados", contou Solera.

Entre as novidades da lista também estão a inclusão da pseudoefedrina e a liberação do estimulante salbutamol, com a declaração de uso de dose diária considerada terapêutica. Feito o pedido da comissão na reunião, o ministério se prontificou a ajudar o Ladetec --único laboratório credenciado pela Wada no país-- para receber as amostras dos testes sem precisar se submeter aos procedimentos da Anvisa.

Neste ano, o material colhido para exames ficou retido pela Anvisa por até duas semanas e perdeu a sua validade.

Fonte: José Eduardo Martins/Folha de S.Paulo