quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O grande ator de si mesmo

Paulo Coelho não é um impostor, nem um aproveitador, nem um aventureiro. Na verdade ele é aquilo que o velho “inimigo íntimo” Raul Seixas não parava de repetir: um grande ator. É sério! Mas não um ator que veste, dá vida e morte a personagens alheios, mas um grande ator do personagem Paulo Coelho. Raulzito se dizia um grande ator porque se “fingia de cantor e compositor” e todo mundo acreditava. Pois o superstar Paulo Coelho ainda tentou dar suas cacetadas como ator de teatro e cinema, dramaturgo, compositor, mas chegou ao estrelato mesmo como escritor. E como conseguiu escrevendo aquela literatura mais precária que bula de remédio?

Lá pelas tantas o Fernando Morais, na biografia “O Mago”, conta que o escritor fez um tal de um pacto com o demo. Fez e desfez, é verdade! Ofereceu a alma em troca do sucesso mundial e depois voltou atrás, rabiscando numa folha em branco, com letras vermelhas, que o trato estava desfeito e que havia “vencido a tentação”. Fácil né? Tão fácil quanto os personagens e narrativas “Control C” + “Control V” de “Diário de Um Mago”, “Brida”, “O Alquimista”, “A Bruxa de Portobelo” e outros “clássicos” que o levaram a Academia Brasileira de Letras e as centenas de prêmios internacionais já acumulados pelos mais de 140 milhões de exemplares vendidos.

Por outro lado, temos que reconhecer que o cara tem, e usa como poucos, duas coisas que a maioria dos mortais também tem, mas como enfeite: alma de marqueteiro e persistência. É gratificante saber que o sujeito foi internado em hospícios, levou choques elétricos, usou tudo quando foi tipo de droga, participou de centenas de seleções em editoras, para tentar publicar ao menos seus contos e, só na casa dos 40 anos de idade, conseguiu o que queria desde os 13 anos: ser um escritor lido e famoso no mundo inteiro.

Assisti a uma palestra do Fernando Morais em que ele dizia que Paulo é malhado por críticos invejosos, coisa de “brasileiro que não suporta o sucesso do próximo”. Será isso mesmo? Não será o próprio Paulo Coelho o primeiro a criar esse clima de hostilidade com aquela história de que faz até chover quando lhe dá vontade?

Quando chega a uma capital européia como, por exemplo, Budapeste, e não encontra no aeroporto os flashs, holofotes, fãs atrás de autógrafos e demais elementos que alimentam os ávidos por reconhecimento, ele se torna um cara furioso, intratável, pior que criança birrenta. Mas, se dentro de 20 minutos as luzes se aproximarem, aí ele entra em seu habitat e esquece todas as mágoas do passado.

Aí se pergunta novamente: como ele consegue fazer tanto sucesso? A razão é simples: o ser humano não vive e não quer viver sem ídolos, seja para o bem ou para o mau. E com toda a “bagagem” de já ter transitado pelo bem e pelo mau (ou pelo menos as idéias que temos desses paradoxos), Paulo sintetiza o sonho de fama e fortuna apesar de todos os pesares.

Mas pelo que entendi até agora, o cara não se importaria se os 140 milhões de exemplares já vendidos não lhe dessem a fortuna que acumulou. Tanto é que a casa onde mora, no interior da França, é de uma simplicidade franciscana. Para ele, o que importa é a fama, o estrelato, as luzes, o reconhecimento e os aplausos de bilhões de pessoas mundo afora. Desde criança a meta era ser um escritor lido e famoso no planeta, não importando se produzisse literatura policial, fotonovela, bula de remédio, coluna de horóscopo, quadrinhos eróticos, tratados de metafísica ou receitas de bolo.

O problema é que só aparece um grande ator desse tipo há cada 100 anos e, no caso, o brasileiro ainda deve ocupar a vaga por pelo menos mais uns 20 ou 30 anos. E depois que o Paulo Coelho “bater as botas” ainda teremos que aguentar o legado que vai deixar e a saudade dos fãs e admiradores. É a vida irmão, é a vida. E vamo que vamo!

Câmbio, desligo

Sérgio Augusto

Editor da Academia da Palavra

Foto: G1