sábado, 21 de novembro de 2009

Brasil produz nova safra de animações com técnicas inéditas

Enquanto mais de uma dúzia de filmes norte-americanos de animação encheram as salas de cinema dos Estados Unidos e do mundo desde janeiro, o Brasil passou o ano com apenas uma estreia nacional do gênero em cartaz, e outra em 2008. Mas isso pode mudar, ainda que timidamente, a partir de 2011. Afinal, sete longas brasileiros animados estão em pleno vapor de produção, incluindo um em "stop motion" e outro em 3D, os primeiros do país.

"Minhocas", com orçamento de R$ 10 milhões, usa bonecos de resina para contar as aventuras de uma jovem minhoca, com a mesma técnica utilizada em obras como "A Noiva Cadáver". Já o 3D (com óculos) é "Brasil Animado", de R$ 2 milhões, que mistura desenho com imagem real de regiões turísticas do país. Ambos têm coprodução da Globo Filmes.

As outras animações variam de infantis a temas mais adultos, com diretores veteranos do gênero, como Otto Guerra ("Wood & Stock"), e estreantes, como o roteirista Luiz Bolognesi ("Chega de Saudade"). Todos se beneficiam da revolução tecnológica, que barateou muito os custos de produção na última década, e das boas bilheterias dos americanos, que empolgam investidores. Além disso, há incentivos do governo (leia mais abaixo) e uma certa tradição brasileira, produtora de 20 longas desde 1953, contra um de Portugal, por exemplo.

"Há oito anos, parecia um sonho impossível, ninguém acreditava em animação. Ainda é difícil, mas está melhorando", diz Bolognesi, que estreia na direção de ficção com o desenho "Lutas". "Os projetos começaram a bombar no Brasil, e a mão de obra passou a ser disputada. Tive que aumentar honorários para manter a equipe."

Sobrevida

Para Cesar Coelho, um dos fundadores do festival AnimaMundi, pode ser que a maior parte dessas produções não ganhe espaço nobre nos cinemas. "Mas com certeza conseguem se pagar na venda para TV, no DVD ou licenciamento de produtos", diz Coelho. De fato, há sobrevida para os infantis. "Brichos", longa de Paulo Munhoz lançado em 2007 e até hoje em cartaz em cinemas do interior de SP, deu origem à série de TV, livro e uma continuação, "A Floresta É Nossa", prevista para 2011.

Outro infantil para o mesmo período é "As Aventuras do Avião Vermelho", com voz de Lázaro Ramos. E "Peixonauta", série de TV exportada para dezenas de países, faz caminho inverso, em direção a um longa em 3D, ainda em pré-produção. A maioria das obras, no entanto, quer deixar de ser restrita às crianças e alcançar público mais abrangente. É o caso de "Fuga em Ré Menor para Kraunus e Pletskaya", de Guerra, baseado no espetáculo "Tangos&Tragédias", e "Nautilus", uma histórica épica com Cristóvão Colombo criança.

Eles seguem a linha das animações "para toda a família" de estúdios como a Disney Pixar, cujo "Up - Altas Aventuras" está cotado como forte concorrente a uma das dez vagas para o Oscar de melhor filme. Já na categoria do gênero, houve recorde de inscrições, 20 longas. "A influência [americana] tem um lado positivo, populariza a animação. Mas tem o negativo: nunca teremos a grana da Pixar, e o público em geral não entende. Isso pode ser comprometedor", diz Marta Machado, presidente da Associação Brasileira de Cinema de Animação.

Fonte: Fernanda Ezabella/Folha de S.Paulo