domingo, 15 de novembro de 2009

Blecautes aumentaram quase 30% em 2009 no Brasil

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), responsável por controlar a operação e a transmissão de energia elétrica do SIN (Sistema Interligado Nacional), registrou neste ano um aumento de 29% no número de apagões de grandes proporções em relação a 2008.

Foram registrados 62 grandes desligamentos de energia no país, com cortes superiores a 100 MW (que equivalem ao consumo médio de uma cidade com 400 mil habitantes). O valor é a referência máxima adotada pelo órgão. Os apagões ainda não foram esclarecidos.

Os especialistas atribuem o aumento a condições climáticas, queimadas, desmatamento e falhas em equipamentos de transmissão, causadas por erros de planejamento ou falta de manutenção. Um levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) afirma que 70% dos desligamentos são causados por descargas elétricas, com prejuízos anuais de R$ 600 milhões.

Com tráfego de quase um terço de toda a energia produzida no país, São Paulo foi o Estado com o maior número de desligamentos neste ano (14), seguido de Mato Grosso (11) e Pará (9).

Apagão

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) nunca vistoriou a subestação de Itaberá (SP), apontada pelo governo como origem do blecaute que deixou 18 Estados sem luz na terça-feira (10). As outras duas subestações envolvidas, Ivaiporã (PR) e Tijuco Preto (SP), foram fiscalizadas há mais de dois anos.

O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) reafirmou no início da noite de quarta (11), em Brasília, que o apagão que atingiu 18 Estados ocorreu devido a fenômenos climáticos. Segundo ele, descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá (SP) foram a causa do desligamento de três linhas de transmissão e o consequente desligamento da usina hidrelétrica de Itaipu.

Lobão afirmou que o próprio Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espacias) confirmou a concentração muito grande desses fenômenos na região. Mais cedo, no entanto, técnicos do Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica), do Inpe, informaram que as chances de um raio ter sido a causa do apagão são mínimas.

A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) admitiu na quinta-feira (12) que o Brasil não está livre de sofrer novos blecautes, como o que deixou 18 Estados às escuras. "Nós não estamos livres de blecaute", afirmou. "O que nós prometemos é que não terá neste país mais racionamento", completou a ex-ministra de Minas e Energia.

"Nós trabalhamos com sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede, e interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter. Nós prometemos que não terá racionamento, porque racionamento é barbeiragem", afirmou Dilma, que ainda negou que o país tenha sofrido um apagão. "Não teve [apagão]. Uma coisa é blecaute [outra é apagão]".

De acordo com o governo, foram desligados 28,8 mil MW (megawatts) de carga no SIN (Sistema Interligado Nacional) nesses 18 Estados, o equivalente ao dobro da potência instalada de Itaipu. No Paraguai, houve interrupção de 980 MW de carga.

O problema começou às 22h13, quando ocorreu perturbação geral, envolvendo diretamente a região Sudeste e Centro-Oeste, desencadeando desligamentos automáticos.

Os dados do operador apontam que às 22h29 a carga da região Sul já estava restabelecida, da região Centro-Oeste às 22h50 e da região Nordeste às 22h55. Às 23h50 foi restabelecida a carga de Minas Gerais.

O restabelecimento gradativo de energia em São Paulo começou à 0h04 e no Rio de Janeiro e Espírito Santo à 0h40. À 1h44 foi restabelecido o SIN. Mas o problema todo foi sanado às 3h15 de quarta-feira (11).

Investigação

O MPF (Ministério Público Federal) abriu um procedimento administrativo para apurar as causas e os responsáveis pelo blecaute desta semana. O trabalho ocorrerá em duas fases: coleta das informações e apuração pelos procuradores nos Estados.

A Procuradoria estabeleceu 72 horas para que o Ministério de Minas e Energia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a Itaipu Binacional apresentem explicações. Todos já foram notificados via fax, na quarta (10), segundo o procurador Marcelo Ribeiro de Oliveira, do Grupo de Trabalho Energia e Combustíveis. No entanto, poderão aguardar a chegada do documento original para cumprir o prazo.

À Folha Online Oliveira afirmou que espera concluir a primeira etapa da apuração em 15 dias --prazo que pode ser prorrogado. Ele espera receber uma documentação completa sobre as causas do apagão para que sejam cobrados os direitos dos consumidores e a garantia dos serviços.

Fonte: Matheus Maguenta e Rodrigo Vargas/Folha de S.Paulo