terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sete dias....



Hoje, 28/10/2013, faz sete dias que o "Seu Sérgio", meu velho, deixou essa vida física e foi bater bola com os craques da eternidade. Foi tudo tão rápido e doloroso que só agora consigo falar a respeito. Bem ao estilo da vida: passa rápido, quase num piscar de olhos, e quando acaba vem a conta. 

Quando lembro do "Seu Sérgio", tenho a imagem de uma criança. A ingenuidade. Aquele tipo de pessoa que acreditava em tudo o que eu dizia. "Olha, não é verdade não, viu? É 'sacanagi' minha". Era assim que eu desfazia o ar de preocupação que ele já expressava quando eu me excedia nas brincadeiras.

Comecei o texto aí em cima dizendo que ele foi bater bola com os craques da eternidade porque ele era doido por futebol. Quase foi jogador profissional. Jogou até o sub-20 no futebol e futsal da Tuna Luso Brasileira, lá onde eu também estive nas mesmas categorias. Me ensinou o amor pelos esportes e que a simplicidade é o mais importante. Era muito ingênuo, de vez em quando se irritava fácil, mas logo passava e já tava falando alto, gesticulando, fazendo barulho. 

Foram só 60 anos de vida, com seus altos e baixos, mas acima de tudo com muito humor. Quis muito que eu seguisse carreira militar, mas não deu. Enveredei pelas letras e notícias e, nisso, mostrei a ele que minhas armas, com a munição da informação, também são poderosas e capazes de mudar muita coisa e para melhor. 

Meu pai teve, sim, erros e falhas durante a vida. Mas um único ato dele, no final da vida, me fez relevar essas pequenas fraquezas humanas. Estive com ele poucas horas antes de ele partir. O estado já era gravíssimo e só um milagre mudaria tudo. Ele deitado, já sem forças, me chamou de lado e disse, com a voz bem fraca: "Eu vou entrar na CTI agora e depois eu vou pra casa. Vai pra lá e me espera com a tua mãe". Ele falou isso e me olhou com tanta certeza e convicção que eu acreditei que ele pularia essa fogueira. 

Muitos se acovardam diante de coisas tão pequenas, e ele, naquele momento decisivo, não se intimidou. Se o organismo dele ainda tivesse forças, tenho certeza que se safaria. Ele foi MACHO ATÉ O FIM, encarou a morte de frente, de peito aberto, e venceu. Não se entregou. Até o último momento acreditou que ia sair daquela. Eu também: até o momento em que recebi a notícia fatal, eu acreditei que ele ia se safar.

São atitudes assim que fazem uma vida inteira valer a pena. E valeu e muito. Isso me enche de orgulho do "velho" e é uma lição que vou levar pra todo o sempre: jamais recuar nem me acovardar. Por mais difícil que seja a situação, ela tem solução. Isso eu não vou esquecer nunca.

E sabe duma coisa? Ele não partiu coisa nenhuma. Tá tão presente, especialmente no bairro do Reduto, que ele tanto amava e me ensinou a amar, que a qualquer momento vai virar uma daquelas esquinas, a bordo de seus indefectíveis bermudões e chinelões, sem camisa, bem ao estilo de nossos antepassados lusitanos, me enxergar, acenar e soltar aquela saudação entusiástica: "Alowwwwww". É isso: em memória do "Seu Sérgio", o show não pode nem vai parar.

 ATÉ BREVE, PAI!

 P.S: "SEU SÉRGIO" NÃO FOI MEU PAI. NA VERDADE FOI MEU IRMÃO MAIS NOVO. :)

Sérgio Augusto
Editor da www.academiadapalavra.blogspot.com 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Miles Davis: um astro difícil até mesmo para ser contado em película



Reproduzir com um mínimo de verossimilhança as notas inventadas por Miles Davis (1926-1991) é hoje o menor desafio de Don Cheadle em seu empenho para levar às telas, como diretor, um filme sobre o monstro sagrado do jazz. O que falta ao ator americano de 48 anos é dinheiro para filmar a história. Cheadle evita falar em valores. Mas estima-se, na imprensa americana, que ele precise de US$ 20 milhões para reconstituir os EUA de 1979 em um drama musical sobre um período de entressafra de Miles. Para cumprir o cronograma e estrear em 2014, Cheadle está à caça de recursos.

"Apesar da força do nome Miles Davis, ninguém quer financiar um projeto que foge do óbvio. Meu interesse não é fazer uma cinebiografia, e sim uma ficção com cara de filme de gângster sobre um período de sua vida envolto em mistério", conta Cheadle, em cartaz no Brasil em “Homem de Ferro 3”, como o coronel James Rhodes, amigo de Tony Stark (Robert Downey Jr.).

O papel é apenas uma das frentes milionárias com as quais o ator se envolveu na última década. Fora ter participado da trilogia “Onze homens e um segredo”, de Steven Soderbergh, ele brilha na TV como protagonista da série “House of lies” (exibida aqui pela HBO), que lhe rendeu um Globo de Ouro este ano. De quebra, traz no currículo uma indicação ao Oscar por seu desempenho em “Hotel Ruanda” (2006) e a reputação de ser um dos melhores intérpretes da sua geração.

"O importante de estar em franquias e seriados que fazem sucesso no exterior é que, hoje, o peso mais determinante no futuro de um projeto cinematográfico americano é sua capacidade de ser comercializado em países estrangeiros. Se você fica conhecido fora e atrai o interesse dos distribuidores internacionais, seus projetos ganham novos meios de serem viabilizados", diz Cheadle.

No filme, sem título por enquanto, o músico, com 53 anos, decide se afastar dos palcos após o sucesso do LP “Bitches brew” (1970). Esboçada por Cheadle com base em fatos, a história se passa em 1979, mostrado como o fim de um período sabático na vida profissional de Miles, ainda à sombra da cocaína.
"Quero contar uma aventura que se passe em poucos dias, tirando Miles da condição de mito e trazendo sua figura para uma trama de reviravoltas. Em 1997, quando fiz “Politicamente incorreto”, dirigido pelo Warren Beatty, ele ficava falando que eu tinha olhar talhado para a direção e aquilo me estimulou. Como tenho uma ligação forte com a música, compondo e tocando sax, vi que era o momento", diz o ator, que também irá protagonizar o longa-metragem.

Há cinco anos, Cheadle embarcou em um projeto nunca realizado com o carioca José Padilha. O realizador de “Tropa de elite” foi cotado para dirigir o ator em uma adaptação do livro “Marching powder: a true story of friendship, cocaine and South America’s strangest jail”, relato autobiográfico do inglês Thomas McFadden, preso na Bolívia por tráfico e enviado para uma prisão onde imperava a corrupção.

"Não tivemos meios para rodar esse projeto, mas nunca perdemos o interesse nele. José é muito talentoso. Ainda quero fazer esse filme com ele", diz Cheadle.



Fonte: Rodrigo Fonseca

Agência Globo/Rio de Janeiro/RJ
Foto: Divulgação

domingo, 10 de março de 2013

Fechem as cortinas. O palhaço da boina vermelha se foi

Hugo Chavez e o famoso gesto do punho cerrado (Divulgação)
Nada mais engraçado, para não dizer primitivo, do que um caudilho como Hugo Chavez ser cultuado, mitificado, endeusado, após levar um país, já historicamente atrasado, como a Venezuela, ao lençol freático do atraso, ignorância e miséria. Uma comoção enorme para um câncer que ajudou a corroer o já apodrecido tecido de uma nação subdesenvolvida, em nome de um discurso falso, ilusório e "pela liberdade".

Que liberdade? Essa onde só o canal estatal de televisão é permitido? Antigamente o nome disso era ditadura. Mas quem é o Brasil pra falar em ditadura? Chavez chegou ao poder após uma porção de tentativas de golpes de estado. Era, é certo, um valente tenente-coronel do Exército daquele país. Tomou o poder na base do tiro e depois me veio com um discurso de "socialismo" (com minúscula mesmo, pois proibir a imprensa livre é tudo, menos o que se entende por Socialismo).

Angariou mais meia dúzia de aliados, como o argentino Diego Maradona, outro sujeito meio confuso das ideias, que fala em "socialismo" e diz detestar os Estados Unidos, mesmo tendo mansões cinematográficas em Miami e Buenos Aires. Chavez dominou a Venezuela não com mãos de ferro, mas com a voz de um animal ferido, perdido entre os delírios de ser a reencarnação de Simão Bolívar ou o messias terceiromundista moderno. Tudo perda de tempo. 

Ponham nesse molho mais alguns meses e ele se tornará um ícone capitalista. Duvidam? Ernesto Che Guevara morreu acreditando que Cuba seria a nação do futuro. Hoje o compatriota de Maradona é um superstar do capitalismo; está em todas as estampas, comerciais, desfiles de moda e tudo o que o dinheiro é (in)capaz de comprar. Fazer o que? De tempos em tempos a mídia tem que matar, ainda em vida, uma celebridade para ter o que dizer. (E, pasmem, diz mesmo, desde que entretenha o distinto público por 15 minutos. E olhe lá).

Mas sabe o que eu mais gostava no quase-humorista Hugo Chavez? Quando ele bancava o revoltoso e falava mal dos Estados Unidos. Em certa conferência da ONU, ele soltou a pérola: "Esta cadeira onde estou agora deveria ser desinfetada. Ontem, esteve aqui sentado o demônio e o cheiro é de enxofre". O tal capeta era o então presidente norte-americano Georde W. Bush. O caudilho sul-americano esculhambou o caudilho "yankee" em público, enquanto nos bastidores certamente morreram de rir daquela palhaçada sem palhaços profissionais.

O cara falava tão mal dos "Iuessei" e, no entanto, a Venezuela, até hoje, tem nos americanos grandes clientes e parceiros comerciais. E quando ele envergava aquela boina vermelha e levantava o punho, como um sessentista "Pantera Negra" do "demônio-parceiro"? Ali estava a melhor das traduções para o que os intelectualóides de ontem e, claro, de hoje, classificam por "líder de massas".Um pequeno tirano a soldo de dólares hollywoodianos (a meca do cinema mundial, onde tudo não passa de um sonolento take de cinema).
E o Brasil? Por que o Brasil não tem peito para criticar a Venezuela? Simples: aqui a ditadura tá disfarçada de tudo quanto é nome. No Brasil, chegou-se a um ponto em que um humorista de 30ª categoria como Hugo Chavez iria passar fome. E sabem por que? É proibidor criticar.

O comediante e ator Bruno Mazzeo, aquele sujeito boa praça e até certo ponto engraçado, filho do grande Chico Anysio, tinha um programa irreverente no canal Multishow, o "Cilada". Ali ele mostrava, com fina ironia, situações do cotidiano que se passa nas grandes cidades do Brasil. Poir o cara teve que suspender o programa ou diminuir as observações ferinas que fazia, pois tava levando processos de tudo quanto é lado.

Dá pra acreditar que se ele fizesse um "Cilada" dramatizando o que acontece num voo na ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, no dia seguinte o sindicato das aeromoças, dos aeroportuários e até dos mecânicos já o estava processando por, supostamente, "ofender os profissionais"?

No Brasil, hoje se vive um "politicamente correto" irritante. Tudo é motivo para processos, reclamações e protestos. Por que processam um humorista enquanto a corrupção tá aí correndo solta entre boa parte de políticos, industriais e em todas as esferas de poder?

Vive-se um momento em que não se pode fazer a menor observação, senão logo aparecem os beócios do anti-racismo, anti-homofobia, anti-terceiro mundo, anti-religião, anti-preconceito e anti-tudo-menos-corrupção. (Boa essa: anti-corrupção não existe. Corrupção é tão normal e familiar que nem é considerada crime. No Brasil, é o que mais faz o povo rir).

E o que fazer agora, que mais um caudilho-piadista se foi? Vamos chorar as lágrimas de um crocodilo abandonado? Nunca. Sejamos fortes. Vamos esperar, que a qualquer momento um novo "mito" aparece. Foi assim com Fidel Castro (já morto em vida), Alberto Fujimori, Getúlio Vargas, Adolf Hitler, Id A Mim Dada, Osama Bin Laden, Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e todos os outros ditadores que animam esse circo dos horrores chamado Planeta Terra.  

Câmbio, desligo!

Sérgio Augusto

Editor da www.academiadapalavra.blogspot.com