Três lançamentos do velho Bob Dylan, 68, vão agitar várias gerações de fãs. Para os estudiosos de sua obra, a editora Larousse do Brasil lança um livrinho em formato de CD com todos os discos e todas suas músicas comentadas. É ótimo. Sai pela Martins Fontes uma versão ilustrada da música "Foverer Young", que Dylan compôs para o filho nenê em 1973. O desenhista Paul Rogers trabalhou um ano em cima da canção e ilustrou 14 painéis em que conta a história da música. "A letra é como uma oração pela vida de uma criança", contou Rogers à Folha. É fofo.
E há um mês saiu nos EUA o novo CD de Dylan, "Christmas in the Heart", 34º álbum de estúdio do compositor. Sem composições próprias, Dylan canta músicas tradicionais de feriado, com todo o dinheiro arrecadado doado para caridade. É Natal!
Bob Dylan para fãs
Dylan é o cara que compôs mais de 600 canções. E Brian Hinton é o cara que acaba de comentar todas elas. É disso que se trata, como diz o nome, "Bob Dylan - Gravações Comentadas & Discografia Completa", livro que sai agora pela Larousse na mesma coleção que já tem os Beatles e os Rolling Stones. É uma bela obra de referência. Além das histórias por trás das canções, Hinton reúne informações como datas de lançamento, encartes, produtores e sobras de estúdio.
O livro traz a capa de todos os discos, e cada álbum começa com uma introdução. Sobre "Blonde on Blonde" (1966), por exemplo: "Kris Kristofferson, que trabalhava como faxineiro dos estúdios na época, disse à "Uncut" que "aquelas foram as sessões mais incríveis que vi em Nashville. Bob ficava horas sentado ao piano compondo --enquanto os músicos jogavam pingue-pongue ou cartas. Aquele foi o comportamento mais estranho que o pessoal de Nashville presenciara, já que ele não gravava a maldita coisa até o sol nascer'".
Uma lista de discos piratas selecionados e de compactos completa a obra. O texto, em português de Portugal, às vezes atrapalha, mas não chega a comprometer. E o formato, de 14 cm x 14 cm, convida a guardar o livro no meio dos CDs.
Bob Dylan para crianças
Desenhista detalhista, com traços finos e elegantes, Paul Rogers foi contatado em 2007 pela editora Simon & Schuster. O editor tinha uma proposta fechada: que tal desenhar a canção "Forever Young" (jovem para sempre), que Dylan compôs em 1973 para seu filho mais novo, Jakob Dylan, que tinha três anos na ocasião?
Rogers criou uma historinha em que um garoto recebe um violão de presente e canta enquanto cresce. "A letra é como uma oração pela vida de uma criança; bons desejos pela vida toda. No começo, não sabia muito como fazer uma narrativa que coubesse nas letras. Até que cheguei na ideia de um menino ganhando um violão e, no final do livro, já mais velho, passando-o para uma nova criança. É uma tradição da música country norte-americana. E um bom modo de mostrar como a música pode enriquecer a vida de alguém."
Para contar a história, Rogers desenhou 14 painéis, cada um publicado em uma página dupla, que mostram o desenrolar da história. Fã de Dylan, Rogers não se conteve: espalhou pelas ilustrações dicas, citações e referências da carreira do cantor. "O processo todo durou cerca de um ano", conta Rogers. "Fui mandando todo o material para o escritório de Dylan, conforme ia desenhando. Eles aprovaram tudo. Era muito importante para mim que Dylan gostasse e que seus fãs também curtissem.
A história mostra um garoto crescendo e usando a música como uma forma de conhecer pessoas e aprender sobre o mundo. Coloquei a história em Nova York e isso me deu chance de criar várias referências." Na imagem acima, por exemplo, há a cantora (e ex-namorada) Joan Baez (de bata branca), o empresário Albert Grossman (de óculos, à direita) e uma senhora com chapéu de pele de leopardo (que o artista cantou em "Leopard-Skin Pill-Box Hat", de 1966), além do fato de o menino estar com a camiseta com o número 61, ano em que Dylan chegou a Nova York.
"Forever Young", a canção, saiu pela primeira vez no álbum "Planet Waves", de 1974. Naquele ano, Dylan também voltou aos palcos, após oito anos de reclusão, e "Forever Young" foi uma das canções da turnê: "Que Deus o abençoe e o proteja sempre/ Que todos os seus desejos se realizem/ Que você sempre ajude os outros/ E deixe que os outros o ajudem/ Que você permaneça jovem para sempre".
Em 1985, Dylan comentou sobre a canção: "Fiz em Tucson. Escrevi pensando em um dos meus garotos e tentando não soar sentimental. As frases chegaram até mim; foram feitas em um minuto. Sei lá, às vezes, é isso o que você tem. Você não sabe exatamente o que virá até que ela vem. Foi como a canção apareceu; você nunca sabe o que vai escrever. Você nunca sabe, na verdade, se vai fazer um outro disco". Paul Rogers, que é fã de jazz (publicou em 2005 um livro com desenhos de artistas do gênero), agora trabalha num projeto com o trompetista Wynton Marsalis. "Será um novo livro para crianças."
Bob Dylan para vovós
É o 34º álbum de estúdio de Bob Dylan. E provavelmente o mais estranho, de uma carreira já repleta de lançamentos pouco convencionais. Em "Christmas in the Heart" (sai aqui em dezembro), Dylan canta 15 canções de feriados religiosos. Isso mesmo: é Natal, é Dia de Ação de Graças, é fim de ano. É letra sobre estrela de Belém, sobre sinos prateados e sobre fé.
Também curiosamente, o prolífico Dylan não compôs nada para esse lançamento. São todas canções tradicionais, antigas, e que dizem muito mais para quem nasceu onde o Natal tem neve, do que para quem é brasileiro, onde o máximo que cantamos é "Jingle Bells". A voz, como vimos nos últimos discos, está cada vez mais rouca e rasgada. Talvez seja Dylan emulando Papai Noel. Os títulos das canções fazem pensar: "Here Comes Santa Claus" (lá vem o Papai Noel), "I'll Be Home for Christmas" (estarei em casa para o Natal), "Must Be Santa" (deve ser o Papai Noel). Estaríamos frente a uma piada do velho Dylan? Ou ele está cantando isso a sério?
Fonte: Ivan Finotti/editor-adjunto da Folha Ilustrada