quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"'Lula' é meu último filme", diz Luis Carlos Barreto sobre a aposentadoria

Foi com os olhos vermelhos que Luiz Carlos Barreto encerrou a passagem do longa "Lula, o Filho do Brasil" pelo Festival de Brasília. Luiz Carlos Barreto, o Barretão, é produtor do filme que conta a história do presidente. Ao término da entrevista concedida a jornalistas no Hotel Nacional, no final da manhã de ontem, o produtor, que tem cerca de 50 filmes no currículo, pegou o microfone para anunciar a aposentadoria. "Minha filha, tô com 81 anos. Depois desse filme, falei: "Chega". Tá na hora de colocar os meninos para trabalhar", disse, em conversa com a Folha.

Os meninos são os diretores Bruno e Fábio, e a produtora, Paula. Todos Barreto. "O "Lula" sintetiza minha carreira. O que vou fazer depois disso? Pendurar as chuteiras". Saído de uma noite de tensão e de puxões de orelha em público, durante a pré-estreia do filme, Barretão parecia ter conversado com o travesseiro. Além de divulgar o afastamento da produtora de sua propriedade, a LC Barreto, elogiou o Festival de Cinema de Brasília e agradeceu a presença do público que, a despeito da superlotação e dos pedidos para que se retirasse --feitos por ele próprio-- não arredou pé.

Barretão não foi o único a se explicar. Fábio Barreto, o diretor, também tentou apaziguar as coisas durante a conversa com os jornalistas e, até, revertê-las em seu proveito. "O importante é que a força do filme se impôs. O que aconteceu no início não atrapalhou em nada a projeção", disse, em referência à falta de lugares e de segurança.

Mea-culpa e culpas expostas, o tema que dominou as discussões foi, é claro, a política. Do momento pré-eleitoral à idealização do protagonista, um homem que tem apenas virtudes, foram muitas as perguntas que procuram ligar o que se passa na tela ao que se passa no Palácio do Planalto. O diretor tentou, no entanto, manter a tônica apolítica. "Qualquer forma de expressão artística vem acompanhada de um caráter político, assim como a recepção dessa obra", tergiversou. "Mas a opção não é por um filme político, e sim por um melodrama épico."

Nesse clima épico, a equipe seguiu de Brasília para Recife, onde o filme será exibido hoje à noite, num cinema de 2.500 lugares, com familiares do presidente na plateia. O périplo continua no dia 28, quando Lula acompanhará uma sessão, em São Bernardo, no ABC paulista, ao lado de sindicalistas. Segundo Barreto, foi o próprio Lula quem, na noite de terça-feira, ao receber a equipe do filme para um coquetel em sua residência oficial, disse que iria à exibição no ABC e que, antes disso, não veria o filme.

Os produtores alinhavam a distribuição internacional. Já se sabe que, na Argentina, o longa estreia em março.

Fonte: Ana Paula Souza/colaboração para a Folha