Com base em estudos que apontam a maior incidência de problemas cardíacos em pacientes com câncer, especialistas defendem a associação da cardiologia à oncologia durante e após o tratamento da doença. A quimioterapia, a radioterapia e a hormonioterapia podem aumentar o risco de doenças como insuficiência cardíaca.
Como hoje os pacientes com câncer vivem mais, essas doenças aparecem mais. Segundo os cientistas, a saúde cardíaca dos pacientes oncológicos deve ser monitorada. "O cardiologista tem que ter noção de oncologia e o oncologista deve monitorar o coração, para detectar alterações precocemente", diz Carlos Serrano, coordenador da próxima edição da revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de SP, dedicada ao tema.
"É preciso criar a cultura de que o paciente em químio vai se curar em 80%, 90% dos casos. A partir de seis meses a um ano após o fim do tratamento seria o marco zero para avaliar alterações. Mas podem demorar anos para aparecer", completa o cardiologista Fernando Bacal, coordenador do Centro Einstein de Insuficiência Cardíaca.
Já há estudos que buscam um tratamento padrão com remédios que protegem o coração em associação à quimioterapia. Uma pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC, por exemplo, avalia o uso de betabloqueadores, uma dessas classes de remédios. Foram acompanhados por um ano 40 pacientes em quimioterapia, com resultados preliminares promissores. Segundo Bacal, são necessários trabalhos mais extensos para comprovar o efeito.
De acordo com uma revisão publicada no "Journal of the American College of Cardiology", algumas drogas podem causar problemas cardíacos em até 28% dos pacientes. Em geral, tratamentos usados contra câncer de mama e linfomas são os mais cardiotóxicos, segundo Auro Del Giglio, titular de mastologia e oncologista da Faculdade de Medicina do ABC.
O risco de ter o problema aumenta com a idade, mas ele afeta pessoas de todas as faixas etárias, diz um estudo publicado na última edição do "Journal of the National Cancer Institute". Os autores defendem a criação de uma área chamada cardio-oncologia ou oncocardiologia e dizem que diretrizes sobre o tema são urgentes.
Fonte: Flávia Mantovani/editora-assistente do Equilíbrio da Folha de S.Paulo e Julliane Silveira/Folha de S.Paulo