"Diário de Sintra", documentário assinado por Paula Gaitán, última mulher de Glauber Rocha (1939-1981), recupera imagens dos últimos meses de vida do cineasta baiano, na cidade de Sintra, Portugal. O filme acaba de entrou em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro. Maior nome do Cinema Novo, consagrado por títulos como "Deus e o diabo na terra do Sol" (64), "Terra em transe" (67) e "O dragão da maldade contra o santo guerreiro" (prêmio de melhor direção no Festival de Cannes em 1969), Glauber vivia então no exílio, no final da ditadura militar no Brasil.
As imagens deste documentário captam um lado mais pessoal e familiar do diretor, visto com a barba crescida, brincando com seus filhos menores, Ava e Eryk (hoje, ambos cineastas), nas praias portuguesas. Os Rocha viveram poucos meses naquele país, entre fevereiro e agosto de 1981, quando ele voltou ao Rio, onde morreu. Até hoje, se discutem quais as causas exatas de sua morte aos 42 anos, falando-se de septicemia, choque bacteriano e outras. O filme, porém, não entra nessa questão.
Em "Diário de Sintra", as imagens, captadas em super-8 e 16 mm, incorporam também a natureza ao redor da família, contribuindo para que o filme tenha um clima mais poético. Em nenhum momento, se recorre a qualquer narração didática. A intenção da diretora é mesmo procurar a emoção destas recordações do marido, lembrado também numa série de fotografias tiradas por ela e que, numa cena, são penduradas por uma menina nos galhos de uma árvore seca.
Sequências filmadas mais recentemente em Sintra mostram entrevistas com velhos moradores da cidade, a quem se exibem fotos de Glauber, para ver se o identificam. Uma senhora garante que se lembra dele, que seria um "ator português", visto numa novela, cujo nome ela não recorda. Eryk Rocha, o filho de Glauber e Paula, já tinha recorrido ao passado do pai para realizar seu primeiro filme, "Rocha que voa" (2002) - este um documentário igualmente poético sobre a passagem de Glauber por Cuba, entre 1971 e 1972.
Fonte: Neusa Barbosa, do Cineweb