Tudo o que você queria saber sobre os oceanos, mas tinha medo de perguntar ou não sabia para quem, está nessa série de documentários realizados pela BBC e pelo Discovery Channel. Levou cinco anos para ser concluída, filmada em cerca de 200 locações, do Ártico à Antártida, da Amazônia à Austrália. É completa e fascinante. Mesmo biólogos e oceanógrafos podem aprender algo novo. Ou, no mínimo, se deleitar com cenas belas e raras do comportamento animal.
Como lembra a narração, feita pela agradável e simpática voz do veterano David Attenborough, mais pessoas já estiveram no espaço do que nos locais mais profundos do oceano. Existem apenas cinco minissubmarinos capazes de levar cientistas a 4.500 metros de profundidade. Todos eles juntos não exploraram até agora nem 1% da superfície das planícies do fundo do mar.
O episódio sobre os abismos oceânicos é justamente um dos mais espetaculares. Cada mergulho praticamente descobre um novo ser vivo. E que seres! Os animais que vivem na escuridão e nas altíssimas pressões dos abismos estão entre os mais exóticos do planeta. São seres transparentes, com olhos enormes, e que usam a luz como arma para defesa e ataque. A "corrida armamentista" entre presa e predador é intensa.
A seleção natural dota um animal de fotocélulas que camuflam seu corpo no sutil azulado do mar; mas um predador encontra um meio de detectar essa luz tênue ou sente os movimentos da presa na água. Um camarão dispara uma cola luminescente que gruda no predador -- torna ele um alvo fácil para outros. Um peixe usa um "farol" de luz vermelha, invisível a suas presas. Um copépode -- pequeno crustáceo -- dispara "flashes" de luz para desorientar o predador.
Estrutura
Os quatro DVDs incluem extras como "making of" e entrevistas. Os cinegrafistas usaram ultraleves, helicópteros, barcos de vários tamanhos, submarinos e, é claro, mergulharam junto a seus alvos. Muitas das cenas foram filmadas pela primeira vez, como tomadas de raros comportamentos sexuais, de alimentação, ou imagens aproximadas mostrando detalhes nunca antes observados.
Um comportamento fascinante é a estratégia dos golfinhos para encurralar um cardume de sardinhas. Parte do grupo cria uma "rede" de bolhas de ar que, aos poucos, vai cercando e agrupando as sardinhas, que são devoradas na totalidade, sobrando só uma "chuva de escamas" descendo ao fundo do mar.
A trilha sonora é inventiva. Pontua bem os momentos mais dramáticos de uma caçada -- como as seis horas que um grupo de orcas levou para separar da mãe e matar um filhote de baleia --, mas há momentos bem-humorados e majestosos -- como as cenas dos pinguins saindo do mar como pequenos foguetes e pousando em terra ou em um bloco de gelo.
O único problema desses filmes é o ocasional descaso com as legendas em português. Às vezes, a palavra em inglês não é traduzida; outras vezes, há erro. Por exemplo, "sand eels" são peixes, não são "minhocas"; e a Nova Escócia fica no Canadá, não nos EUA.