Com o 13º salário em mãos, gratificações, férias e outros recursos extras de fim de ano, o brasileiro está quitando dívidas antigas para fazer novas. Conforme os representantes das instituições financeiras ouvidos por VEJA.com, os consumidores que estão pagando as obrigações pendentes já voltaram às compras graças a novos empréstimos e parcelamentos. "Comparando as duas primeiras semanas de dezembro com as de novembro, tivemos um crescimento de 40% nas vendas de crédito", diz Hilgo Goncalves, executivo-chefe da Losango. Na comparação com dezembro de 2008, a alta é de 10%.
Segundo Ricardo Flores, vice-presidente de crédito e controle do Banco do Brasil (BB), o carro-chefe da concessão de recursos à pessoa física é o crédito consignado, que em setembro tinha uma carteira de 34 bilhões de reais. "Essa modalidade responde pela menor inadimplência do banco", diz, sem revelar números. Ele acrescenta que, normalmente, dezembro é um mês em que a retomada dos pagamentos cresce entre 25% e 30% em relação à média do ano. "E este mês não deverá fugir à regra", prevê.
Alerta - Como lembra Marcelo Malanga, superintendente executivo de recuperação de crédito do Grupo Santander Brasil, os créditos rotativos como cartão de crédito e cheque especial são os primeiros a darem sinais de alerta de endividamento. "Quando isso acontece, a saída muitas vezes é a aquisição de um crédito parcelado para sanar o problema". Segundo Malanga, 15% a 20% dos clientes que tinham atrasos constantes regularizaram sua situação.
De acordo com Roberto Alfeu, presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil e do Clube de Diretores Lojistas de Belo Horizonte, 80% das transações comerciais no país são feitas a prazo. "São quase dez milhões de pessoas entrando no nosso banco de dados todo mês e outros 9,5 milhões saindo", avalia. Ainda segundo ele, quase 40% dos consumidores incluídos na lista conseguem limpar o nome após 13 dias da notificação.
Na cidade de São Paulo, a inadimplência teve alta de 6 pontos porcentuais entre novembro e dezembro, passando de 14% para 20%, segundo dados da Federação do Comércio (Fecomercio). De acordo com Alfeu, esse tipo de comportamento já era esperado. "Esse número volta a cair com a entrada da segunda parcela do 13º salário e outros recursos extras", afirma.
Orientações
Para quem ainda não gastou o dinheiro extra de fim de ano e ainda pensa em fazer mais compras, Ioni Amorim, economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), aconselha liquidar as pendências antes de envolver-se em novas dívidas. "Dependendo da perspectiva de renda, é preferível nem comprar".
A prioridade, segundo Ione, é pagar cartão de crédito e cheque especial. "A lógica é simples: geralmente, a taxa de juros desses produtos é muito maior do que a taxa de remuneração que o recurso aplicado possa render".
Fonte: Luiz de França/Abril.Com