sábado, 26 de dezembro de 2009

Nova técnica resfria recém-nascidos para evitar sequelas neurológicas

A bióloga Karina Baratella, 30, ficou apreensiva quando viu o filho Giovanni, então recém-nascido, ser colocado em um colchão que resfriava todo o seu corpo. "Toda mãe quer aquecer seu bebê, colocar cobertor, touquinha. O meu filho ficava lá, só de fraldinha, todo gelado", recorda. O "sacrifício" foi por uma boa causa: o bebê foi submetido a um novo tratamento que usa a hipotermia para evitar sequelas neurológicas em recém-nascidos que nascem com asfixia. Giovanni tinha nascido desfalecido e "completamente roxo". Karina teve que esperar três dias para ter autorização para pegá-lo no colo e ele ficou nove dias na UTI. Mas hoje, aos dez meses, está bem e os exames não detectaram nenhum problema.

Falta de oxigênio

O novo método já foi aplicado pelo Hospital e Maternidade São Luiz em 18 bebês que tiveram falta de oxigenação adequada no cérebro --o que ocorre devido a diversos problemas, como descolamento da placenta. A incidência no mundo varia de um a dois casos para cada 1.000 nascimentos, e o problema pode levar à paralisia cerebral, com sequelas motoras e cognitivas.

Pela técnica, usada só em casos moderados ou graves e no máximo seis horas após o parto, o corpo do bebê é resfriado até atingir a temperatura de 33 a 34 graus. Ele permanece assim por 72 horas. "O metabolismo cerebral diminui e, por vários mecanismos, é reduzida a morte de neurônios", resume Miriam Rika, neonatologista do Hospital São Luiz.

Estudos

No Brasil, a hipotermia é induzida por um colchão. Em alguns países, é usado um capacete que resfria só a cabeça. Em centros com menos recursos, pode ser feita até com gelo. O tratamento convencional só combate as consequências do problema. "Não havia nada que atuasse na evolução da doença", diz Rika. Pesquisas mostram que o índice de mortalidade diminui de 38% para 24% após a hipotermia e as sequelas neurológicas após 18 meses, de 30% para 19%.

O método não é mais considerado experimental e vem sendo corroborado por diversos estudos internacionais. Um estudo realizado pelo Imperial College de Londres e que será publicado na edição de janeiro do "Lancet Neurology" constatou que resfriar o corpo de bebês para 33 ou 34 graus após o nascimento em casos de asfixia ajuda a reduzir de 30% a 40% os riscos de lesões neurológicas em áreas do cérebro relacionadas ao desenvolvimento da criança.

Os pesquisadores também observaram que os recém-nascidos que foram resfriados apresentaram três vezes mais chances de ter resultado de ressonâncias magnéticas normais.
Foram avaliados 325 bebês de 2002 a 2006.

Fonte: Flávia Mantovani/Editora-assistente do Equilíbrio da Folha de S.Paulo, com colaboração de Julliane Silveira