terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Salário mínimo vale duas cestas básicas pela primeira vez em quase 40 anos

Dados divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que pela primeira vez desde 1972 o trabalhador que mora na cidade de São Paulo comprometeu menos da metade do salário mínimo na compra dos produtos da cesta básica. Segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, a queda dos preços dos alimentos na capital paulista em 2009, ao lado da política de recuperação do mínimo, ajudaram a diminuir o comprometimento da renda com a cesta básica.

De acordo com José Maurício Soares, coordenador da Pesquisa Nacional de Cesta Básica, o fato de a despesa com os alimentos ter caído e de o salário mínimo estar nos últimos anos sob o impacto da política de recuperação de valor fazem com que sobre mais dinheiro no bolso do brasileiro. Para se ter uma ideia de como esta evolução tem se comportado, em 1994, por exemplo, a relação entre cesta básica e salário mínimo era de 102,35% - a mais alta desde 1959, quando o Dieese começou a fazer a pesquisa. Ou seja, era necessário mais de um mínimo para arcar com as despesas com gêneros alimentícios. No ano passado a relação foi de 49,47%.

"Com uma certa folga no orçamento, o brasileiro passa a ter mais condições de pagar as dívidas, sair do cheque especial e até fazer outros gastos", explica Soares. Daí o fato de muitas empresas estarem cada vez atentas ao consumidor que tem a renda atrelada ao salário mínimo. Com a política do aumento real do seu valor, iniciada em 1995, o brasileiro tem conseguido uma sobra de caixa e chamado a atenção até mesmo das empresas de turismo, como a operadora CVC (leia mais ao lado).

O levantamento do Dieese mostra ainda qual é a jornada de trabalho necessária no mês para a compra da cesta básica. No ano passado foram necessárias em São Paulo 109 horas e 53 minutos - menos que as 126 horas e 54 minutos de 2008. Assim como na relação entre cesta básica e salário mínimo, 1994 foi o momento mais crítico. Naquele ano era preciso trabalhar 225 horas e 10 minutos para arcar com as despesas dos gêneros alimentícios básicos.

De acordo com o coordenador do Dieese, a conclusão é que já foi necessário trabalhar mais para comprar a cesta básica, "mas historicamente também já se trabalhou menos", ressalta. Em 1959, quando o Dieese começou a fazer a pesquisa, era preciso trabalhar apenas 65 horas e 5 minutos para comprar a cesta básica. Para o especialista, de uma forma geral o preço da cesta básica se comportou bem no ano passado e pelo menos até abril não deve apresentar sobressaltos. Até o meio da década passada, lembra, ela chegava a subir 30%, 40%, até 50% ao ano.

Cesta Básica

Segundo o Dieese, das 17 capitais pesquisas, apenas em Belém os custos dos alimentos subiram em 2009 (2,65%). A maior queda foi em João Pessoa (-14,95%). A capital da Paraíba foi onde se precisou de menos tempo de trabalho para comprar da cesta básica, 80 horas e 44 minutos. Já em Porto Alegre foi necessário trabalhar 112 horas e 24 minutos.

Fonte: Paula Pacheco/AE