O leitor desavisado que visse na vitrine a capa do livro Lula do Brasil - a história real, do Nordeste ao Planalto poderia achar que fosse o roteiro do filme Lula, o Filho do Brasil, uma ode à história do presidente da República que chegou aos cinemas ontem. Embora no cartaz do filme a figura central seja a atriz Glória Pires, que interpreta Dona Lindu, mãe de Lula, e a capa do livro seja o próprio Lula, a inspiração é a mesma. O conteúdo, no entanto, tem diferenças.
O filme relata a trajetória do presidente da infância à militância no movimento sindical. É inspirado em outro livro, com o mesmo título, da jornalista Denise Paraná. Lançado na onda da badalação da obra do cineasta Fábio Barreto - que sofreu um acidente na noite do dia 19 e está internado no Rio de Janeiro - o livro Lula do Brasil, do pesquisador e brasilianista inglês Richard Bourne, traça a biografia do presidente do nascimento até a reeleição, em 2006. Tem uma visão bem mais crítica. O saldo, porém, é positivo para o presidente.
Bourne cita o mensalão, pior escândalo do governo Lula, o fracasso do programa Fome Zero e o "recado" dos eleitores, que levaram o presidente ao segundo turno em 2006. Também revela a proximidade de Lula com o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, que renunciou em meio a denúncias de cobrança de propina para prorrogar contratos de restaurantes da Casa. O livro cita também os negócios obscuros do filho do presidente, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, à frente da empresa Gamecorp.
O autor diz que havia uma dúvida permanente na sociedade sobre o quanto Lula sabia do esquema de caixa 2 e suposto pagamento a parlamentares. "Se ele sabia, então era cúmplice. Se não sabia, era um administrador negligente", diz Bourne. Para o autor, o trabalho de Lula "como construtor da democracia e de uma sociedade mais justa está visivelmente incompleto" e "a primeira presidência de Lula foi obscurecida pela sombra negra do papel oculto do dinheiro na política".
O livro de 360 páginas - mais 90 de fotografias -, lançado pela Geração Editorial, dá ênfase à trajetória do menino pobre que chegou à liderança do movimento sindical, à fundação de um partido e à Presidência da República. "Se Abraham Lincoln fora para os americanos do século 19 um símbolo de que era possível começar a vida numa cabana de lenhador e terminá-la na Casa Branca, a história de Lula, o migrante oriundo de um lar desfeito que perdera o dedo num acidente de fábrica parecia igualmente inacreditável e inspiradora", diz o autor.