domingo, 28 de fevereiro de 2010

Geração 2000 celebra Guilherme Arantes, tido como "brega" nos anos 80

É o fim do exílio. O novo show de Guilherme Arantes sinaliza que os tempos estão mudados. Só agora, quase duas décadas depois do que poderíamos chamar de "início da decadência" do cantor, sua música volta a ser reconhecida por suas qualidades reais. E começa a se desvincular de rótulos preconceituosos que lhe vinham sendo pregados desde então.

"O pessoal dos anos 80 me chamava de brega --coisa que eu de fato era naquelas circunstâncias", diz o cantor. "No reinado do pop-rock, era vetado ao homem ter sentimentos. E eu, como o Erasmo Carlos, não tinha pudor nenhum de rasgar as emoções. Agora, estou me vingando da isolada que esse pessoal me deu. A mesma coisa que me fez maldito ali, hoje me dá a chance de perdurar".

E essas chances vêm aumentando. De um par de anos para cá, as velhas canções de Guilherme têm se tornado cada vez mais constantes no repertório de artistas --principalmente das vozes femininas. Vanessa da Mata fez versão para "Um Dia, um Adeus", que acaba de entrar na trilha da novela global "Cama de Gato". Zélia Duncan releu "Cuide-se Bem" em CD e DVD ao vivo --mesma música escolhida por Bruna Caram para fechar seu CD "Feriado Pessoal". Adriana Calcanhotto incluiu "Meu Mundo e Nada Mais" no show mais recente, e também deve lançá-la em DVD.

Guilherme reconhece que foi resgatado pelas cantoras, "para quem o sentimento está liberado". Mas aponta no seu instrumento de apoio outra razão que pode ter colaborado nesse processo de revalorização. "O piano entrou em desuso depois da fase áurea do pop, de tão usado que foi pelo Duran Duran, pelo RPM e por mim mesmo", diz. "Mas, passado esse tempo de descanso, voltou com tudo agora, tanto lá fora, em bandas como o Coldplay, como por aqui, no trabalho de caras novos como o [Daniel] Ganjaman e [Marcelo] Jeneci."

E é só esse instrumento --um piano de cauda-- que Guilherme usa para fazer o show de hoje. Estão na lista todas as canções que agora também são de Vanessa, de Zélia, de Bruna, de Adriana. Mas também duas dezenas de outras que ainda estão à espera do redescobrimento. Já se vão 34 anos desde a estreia fonográfica de Guilherme Arantes, e, vá lá, uns 25 do estrondoso apogeu comercial. O momento atual, dá para apostar, é de igual importância no desenrolar dessa história.

Fonte: Marcus Preto/Folha de S.Paulo