domingo, 4 de abril de 2010

Os semi-deuses da bola quadrada

Os clubes de futebol se esforçam, pagos salários inacreditáveis aos jogadores, investem milhões de dólares ou euros em marketing pessoal e os atletas parecem fazer o contrário: cada vez mais se mantém longe dos torcedores, como se tivessem alguma doença contagiosa. Não vou me alongar e para isso vou citar dois exemplos aqui mesmo da minha cidade, Belém do Pará.

Palmeiras e Santos vieram aqui jogar contra Paysandu e Remo, respectivamente, pela Copa do Brasil. Os torcedores dos times paulistas, que são muitos por estas bandas daqui, fizeram fila, organizaram charangas, um grande carnaval no aeroporto, à espera das duas equipes. O Palmeiras veio primeiro e, assim que o avião pousou na pista, a festa aumentou.

Pra decepção de todo mundo um ônibus entrou na pista e pegou os jogadores ali mesmo, saindo, literalmente, pela porta dos fundos. O máximo que alguns poucos "privilegiados" conseguiram foi pegar autógrafos no saguão do hotel onde a delegação alviverde ficou hospedada.

Dias depois foi a vez dos Meninos da Vila baixarem por aqui, com seu futebol alegre, contagiante, e as coreografias para comemorar gols que já viraram marca registrada. Parecia replay da "bola nas costas": ônibus na pista, saída pelos fundos, nada de autógrafos e uma verdadeira odisséia pros caras poderem falar à imprensa local.

E, há três dias, aquela situação mais que constrangedora da delegação santista quase inteira ficar no ônibus e se recusar a entrar num lar espírita, em São Paulo, onde crianças portadoras de necessidades especiais, que nos jogadores enxergam verdeiros super-heróis, os esperavam ansiosamente. Desculpas: a maioria dos jogadores é evangélico e receou entrar em um lugar cujos ritos religiosos são diferentes do que eles praticam. E tem mais: testemunhas dizem que dentro do ônibus do time um pagodão rolava solto, enquanto as crianças se lamentavam na casa beneficiente.

Aí pergunto: qualé a desses jogadores? Que eu saiba Pelé, Zico, Raí, Dirceu, Éder Alexo, Romário, Roberto Dinamite e outros craques de verdade nunca se recusaram a atender os fãs, muito menos saíam pela porta dos fundos de hotéis e aeroportos para evitar contato com os torcedores. Vou mais além: nem no Santos, nem no Palmeiras há jogadores do quilate desses que mencionei acima.

Eu mesmo, quando garoto, ia pra porta do hotel pra ver de perto Zico, Romário, Raí e nunca vi os caras ignorando os fãs. O Santos de hoje tem lá seus bons valores, mas no caso de um Zico, um Romário ou um Pelé, seriam honrosamente reservas dos mitos. Será que pensam que já são maiores que craques de verdade, no caso dentro e fora dos gramados? Pois pra mim esse tipo de atitude arrogante é coisa de semi-deus da bola quadrada

Fica o questionamento desse cronista esportivo que vos escreve.

Saudações



Sérgio Augusto



Editor da Academia da Palavra