terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Patrulheiros sem retórica




Debatendo cá com meus humildes botões, chego à conclusão que as "patrulhas do politicamente correto" (com minúsculas mesmo) que tanto polemizam pra lá e pra cá, em cima de tudo e todos, nos dias de hoje, chiariam horrores com os humoristas de verdade. Vamo raciocinar: aqueles quadros e personagens clássicos do Chico Anysio, Jô Soares e Os Trapalhões, especialmente na década de 1980, seriam agora mais que criticados, processados e, quem sabe, teria até passeata nas ruas pra que fossem tirados do ar. 

Vejamos: o Haroldo, o Hetero, levaria processo por homofobia, a mesma coisa o Painho, que também seria acionado judicialmente por homofobia e danos morais, já que, supostamente, satiriza o jeito de ser - digamos assim - meio "lento" do baiano (olha lá o cuidado que tô tomando com as expressões). 

O Tim Tones seria logo apontado como ofensa aos pastores evangélicos; o Justo Veríssimo viraria alvo de muitos políticos, que certamente iriam se identificar com o personagem e não aceitariam ser, também supostamente, ridicularizados. E o que dizer, então, do Nazareno, que vivia chamando a esposa de "extração de dente sem anestesia" pra baixo, e do Setembrino, o "Último Comunista"?

O Jô Soares também aprontava das suas. Se hoje em dia ele gravasse quadros do Capitão Gay levaria milhares de processo por homofobia e também iria se indispor com alguns militares, pois a patente do personagem é a de capitão. E Os Trapalhões então? O Didi vivia chamando o Mussum (cujo nome artístico também já seria considerado pejorativo) de "grande pássaro" e "reco-reco", sendo que o "Muça" respondia com "paraíba" e "trofeuzinho de corrida de jegue".

Eram programas que faziam rir, refletir e questionavam muitas coisas erradas da sociedade brasileira. E hoje tenho certeza que seriam alvo dos "politicamente corretos", para quem o direito de avaliar e criticar, de todos, deixou de ser real e se tornou um palco para, nem sempre, produtivos debates. 

Câmbio, desligo

Sérgio Augusto
Editor da www.academiadapalavra.blogspot.com

Ilustração: G1