domingo, 10 de março de 2013

Fechem as cortinas. O palhaço da boina vermelha se foi

Hugo Chavez e o famoso gesto do punho cerrado (Divulgação)
Nada mais engraçado, para não dizer primitivo, do que um caudilho como Hugo Chavez ser cultuado, mitificado, endeusado, após levar um país, já historicamente atrasado, como a Venezuela, ao lençol freático do atraso, ignorância e miséria. Uma comoção enorme para um câncer que ajudou a corroer o já apodrecido tecido de uma nação subdesenvolvida, em nome de um discurso falso, ilusório e "pela liberdade".

Que liberdade? Essa onde só o canal estatal de televisão é permitido? Antigamente o nome disso era ditadura. Mas quem é o Brasil pra falar em ditadura? Chavez chegou ao poder após uma porção de tentativas de golpes de estado. Era, é certo, um valente tenente-coronel do Exército daquele país. Tomou o poder na base do tiro e depois me veio com um discurso de "socialismo" (com minúscula mesmo, pois proibir a imprensa livre é tudo, menos o que se entende por Socialismo).

Angariou mais meia dúzia de aliados, como o argentino Diego Maradona, outro sujeito meio confuso das ideias, que fala em "socialismo" e diz detestar os Estados Unidos, mesmo tendo mansões cinematográficas em Miami e Buenos Aires. Chavez dominou a Venezuela não com mãos de ferro, mas com a voz de um animal ferido, perdido entre os delírios de ser a reencarnação de Simão Bolívar ou o messias terceiromundista moderno. Tudo perda de tempo. 

Ponham nesse molho mais alguns meses e ele se tornará um ícone capitalista. Duvidam? Ernesto Che Guevara morreu acreditando que Cuba seria a nação do futuro. Hoje o compatriota de Maradona é um superstar do capitalismo; está em todas as estampas, comerciais, desfiles de moda e tudo o que o dinheiro é (in)capaz de comprar. Fazer o que? De tempos em tempos a mídia tem que matar, ainda em vida, uma celebridade para ter o que dizer. (E, pasmem, diz mesmo, desde que entretenha o distinto público por 15 minutos. E olhe lá).

Mas sabe o que eu mais gostava no quase-humorista Hugo Chavez? Quando ele bancava o revoltoso e falava mal dos Estados Unidos. Em certa conferência da ONU, ele soltou a pérola: "Esta cadeira onde estou agora deveria ser desinfetada. Ontem, esteve aqui sentado o demônio e o cheiro é de enxofre". O tal capeta era o então presidente norte-americano Georde W. Bush. O caudilho sul-americano esculhambou o caudilho "yankee" em público, enquanto nos bastidores certamente morreram de rir daquela palhaçada sem palhaços profissionais.

O cara falava tão mal dos "Iuessei" e, no entanto, a Venezuela, até hoje, tem nos americanos grandes clientes e parceiros comerciais. E quando ele envergava aquela boina vermelha e levantava o punho, como um sessentista "Pantera Negra" do "demônio-parceiro"? Ali estava a melhor das traduções para o que os intelectualóides de ontem e, claro, de hoje, classificam por "líder de massas".Um pequeno tirano a soldo de dólares hollywoodianos (a meca do cinema mundial, onde tudo não passa de um sonolento take de cinema).
E o Brasil? Por que o Brasil não tem peito para criticar a Venezuela? Simples: aqui a ditadura tá disfarçada de tudo quanto é nome. No Brasil, chegou-se a um ponto em que um humorista de 30ª categoria como Hugo Chavez iria passar fome. E sabem por que? É proibidor criticar.

O comediante e ator Bruno Mazzeo, aquele sujeito boa praça e até certo ponto engraçado, filho do grande Chico Anysio, tinha um programa irreverente no canal Multishow, o "Cilada". Ali ele mostrava, com fina ironia, situações do cotidiano que se passa nas grandes cidades do Brasil. Poir o cara teve que suspender o programa ou diminuir as observações ferinas que fazia, pois tava levando processos de tudo quanto é lado.

Dá pra acreditar que se ele fizesse um "Cilada" dramatizando o que acontece num voo na ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, no dia seguinte o sindicato das aeromoças, dos aeroportuários e até dos mecânicos já o estava processando por, supostamente, "ofender os profissionais"?

No Brasil, hoje se vive um "politicamente correto" irritante. Tudo é motivo para processos, reclamações e protestos. Por que processam um humorista enquanto a corrupção tá aí correndo solta entre boa parte de políticos, industriais e em todas as esferas de poder?

Vive-se um momento em que não se pode fazer a menor observação, senão logo aparecem os beócios do anti-racismo, anti-homofobia, anti-terceiro mundo, anti-religião, anti-preconceito e anti-tudo-menos-corrupção. (Boa essa: anti-corrupção não existe. Corrupção é tão normal e familiar que nem é considerada crime. No Brasil, é o que mais faz o povo rir).

E o que fazer agora, que mais um caudilho-piadista se foi? Vamos chorar as lágrimas de um crocodilo abandonado? Nunca. Sejamos fortes. Vamos esperar, que a qualquer momento um novo "mito" aparece. Foi assim com Fidel Castro (já morto em vida), Alberto Fujimori, Getúlio Vargas, Adolf Hitler, Id A Mim Dada, Osama Bin Laden, Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e todos os outros ditadores que animam esse circo dos horrores chamado Planeta Terra.  

Câmbio, desligo!

Sérgio Augusto

Editor da www.academiadapalavra.blogspot.com