Hugo Chavez e o famoso gesto do punho cerrado (Divulgação) |
Nada mais engraçado, para não dizer primitivo, do que um caudilho como Hugo Chavez ser cultuado, mitificado, endeusado, após levar um país, já historicamente atrasado, como a Venezuela, ao lençol freático do atraso, ignorância e miséria. Uma comoção enorme para um câncer que ajudou a corroer o já apodrecido tecido de uma nação subdesenvolvida, em nome de um discurso falso, ilusório e "pela liberdade".
Que liberdade? Essa onde só o canal estatal de televisão é permitido? Antigamente o nome disso era ditadura. Mas quem é o Brasil pra falar em ditadura? Chavez chegou ao poder após uma porção de tentativas de golpes de estado. Era, é certo, um valente tenente-coronel do Exército daquele país. Tomou o poder na base do tiro e depois me veio com um discurso de "socialismo" (com minúscula mesmo, pois proibir a imprensa livre é tudo, menos o que se entende por Socialismo).
Angariou mais meia dúzia de aliados, como o argentino Diego Maradona, outro sujeito meio confuso das ideias, que fala em "socialismo" e diz detestar os Estados Unidos, mesmo tendo mansões cinematográficas em Miami e Buenos Aires. Chavez dominou a Venezuela não com mãos de ferro, mas com a voz de um animal ferido, perdido entre os delírios de ser a reencarnação de Simão Bolívar ou o messias terceiromundista moderno. Tudo perda de tempo.
Ponham nesse molho mais alguns meses e ele se tornará um ícone capitalista. Duvidam? Ernesto Che Guevara morreu acreditando que Cuba seria a nação do futuro. Hoje o compatriota de Maradona é um superstar do capitalismo; está em todas as estampas, comerciais, desfiles de moda e tudo o que o dinheiro é (in)capaz de comprar. Fazer o que? De tempos em tempos a mídia tem que matar, ainda em vida, uma celebridade para ter o que dizer. (E, pasmem, diz mesmo, desde que entretenha o distinto público por 15 minutos. E olhe lá).
Mas sabe o que eu mais gostava no quase-humorista Hugo Chavez? Quando ele bancava o revoltoso e falava mal dos Estados Unidos. Em certa conferência da ONU, ele soltou a pérola: "Esta cadeira onde estou agora deveria ser desinfetada. Ontem, esteve aqui sentado o demônio e o cheiro é de enxofre". O tal capeta era o então presidente norte-americano Georde W. Bush. O caudilho sul-americano esculhambou o caudilho "yankee" em público, enquanto nos bastidores certamente morreram de rir daquela palhaçada sem palhaços profissionais.
O cara falava tão mal dos "Iuessei" e, no entanto, a Venezuela, até hoje, tem nos americanos grandes clientes e parceiros comerciais. E quando ele envergava aquela boina vermelha e levantava o punho, como um sessentista "Pantera Negra" do "demônio-parceiro"? Ali estava a melhor das traduções para o que os intelectualóides de ontem e, claro, de hoje, classificam por "líder de massas".Um pequeno tirano a soldo de dólares hollywoodianos (a meca do cinema mundial, onde tudo não passa de um sonolento take de cinema).
E o Brasil? Por que o Brasil não tem peito para criticar a Venezuela? Simples: aqui a ditadura tá disfarçada de tudo quanto é nome. No Brasil, chegou-se a um ponto em que um humorista de 30ª categoria como Hugo Chavez iria passar fome. E sabem por que? É proibidor criticar.
O comediante e ator Bruno Mazzeo, aquele sujeito boa praça e até certo ponto engraçado, filho do grande Chico Anysio, tinha um programa irreverente no canal Multishow, o "Cilada". Ali ele mostrava, com fina ironia, situações do cotidiano que se passa nas grandes cidades do Brasil. Poir o cara teve que suspender o programa ou diminuir as observações ferinas que fazia, pois tava levando processos de tudo quanto é lado.
Dá pra acreditar que se ele fizesse um "Cilada" dramatizando o que acontece num voo na ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, no dia seguinte o sindicato das aeromoças, dos aeroportuários e até dos mecânicos já o estava processando por, supostamente, "ofender os profissionais"?
No Brasil, hoje se vive um "politicamente correto" irritante. Tudo é motivo para processos, reclamações e protestos. Por que processam um humorista enquanto a corrupção tá aí correndo solta entre boa parte de políticos, industriais e em todas as esferas de poder?
Vive-se um momento em que não se pode fazer a menor observação, senão logo aparecem os beócios do anti-racismo, anti-homofobia, anti-terceiro mundo, anti-religião, anti-preconceito e anti-tudo-menos-corrupção. (Boa essa: anti-corrupção não existe. Corrupção é tão normal e familiar que nem é considerada crime. No Brasil, é o que mais faz o povo rir).
E o que fazer agora, que mais um caudilho-piadista se foi? Vamos chorar as lágrimas de um crocodilo abandonado? Nunca. Sejamos fortes. Vamos esperar, que a qualquer momento um novo "mito" aparece. Foi assim com Fidel Castro (já morto em vida), Alberto Fujimori, Getúlio Vargas, Adolf Hitler, Id A Mim Dada, Osama Bin Laden, Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e todos os outros ditadores que animam esse circo dos horrores chamado Planeta Terra.
Sérgio Augusto
Editor da www.academiadapalavra.blogspot.com