quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Escavações resgatam ferrovia Madeira/Mamoré em Rondônia

O pedaço de louça achado pelos arqueólogos, fragmento de um jarro que se quebrou em algum momento dos anos 1910, tem dois carimbos diferentes indicando sua procedência: o de uma firma brasileira, provavelmente a importadora, e o do fabricante escocês, de Edimburgo.

"Este lugar era extremamente cosmopolita. Havia caribenhos de Barbados, alemães, italianos, ingleses", conta o arqueólogo britânico Alastair Richard Threfall, enquanto tenta explicar a sucessão de camadas de detritos na antiga vila de Santo Antônio do Madeira (RO).

No começo do século 20, esse canto então remoto da Amazônia, perto da atual Porto Velho, era crucial para a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.Planejada para escoar a produção de borracha dos seringais brasileiros e bolivianos, a via férrea logo se tornou irrelevante com a queda dos preços do produto no mercado internacional. Agora, Threfall e seus colegas estão usando os dados arqueológicos para entender a ocupação-relâmpago que acompanhou a chamada "ferrovia do diabo".

As escavações, sob responsabilidade da empresa Scientia Consultoria Científica, fazem parte do pacote de compensações exigidas por lei para a construção de um grande empreendimento --no caso, a Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira. O trecho da vila escavado pelos cientistas não será impactado diretamente pela usina e pode, inclusive, virar uma espécie de museu a céu aberto quando a obra terminar. "É um sítio de alto potencial", diz o arqueólogo Renato Kipnis, sócio da Scientia e coordenador do trabalho.

Por enquanto, a equipe está centrando esforços num conjunto de construções na margem da antiga ferrovia. Vários dos prédios não chegaram a ser fotografados, embora constem em mapas da época. "A questão é que nem sempre o mapa reflete o cenário da época, ele pode ser apenas reflexo de um projeto para a área", diz Threfall. Com base nos dados já obtidos, os pesquisadores já conseguem fazer uma primeira tentativa de reconstruir a sequência de ocupação e abandono no local.

"Sabemos que o muro desta estrutura, provavelmente residencial, recobriu toda esta área quando caiu, o que nos dá uma altura de uns 3,5 m para o prédio quando estava de pé. Depois, o concreto ficou misturado ao sedimento", diz o britânico, que é casado com uma mineira. Uma área mais elevada ao lado abrigava o que parece ser um escritório ou loja. "A arquitetura é mais imponente, parece que eles estavam querendo causar boa impressão", afirma Threfall.

Construída a duras penas, com centenas de trabalhadores europeus vitimados pela malária - daí a fama macabra -, a ferrovia acabou sendo fechada nos anos 1960. Pistas vindas da área escavadas pela equipe indicam um período de florescimento ainda mais curto, de 1914 aos anos 1940, diz o arqueólogo.

Fonte: Reinaldo José Lopes/Folha de S.Paulo

Foto: Divulgação

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Lei do Audiovisual tem que mudar, diz diretor de "Tropa de Elite 2"

A estreia maiúscula de "Tropa de Elite 2" --o longa se aproxima dos 3 milhões de espectadores, com apenas uma semana em cartaz - dá fôlego à pretensão do cineasta José Padilha de impulsionar mudanças na lei brasileira de incentivo ao cinema. Padilha avalia que "no modelo de financiamento do cinema brasileiro há algo intrinsecamente errado". Trata-se dos termos em que é dividida a renda dos filmes entre produtores e distribuidores --estes últimos são os responsáveis pelo lançamento dos longas nas salas.

"No modelo norte-americano, o distribuidor banca o filme. Se [o diretor Francis Ford] Coppola vai fazer 'O Poderoso Chefão', o distribuidor coloca o dinheiro da produção e do p&a [sigla da expressão em inglês print and advertising, que designa a impressão das cópias do filme e a propaganda para lançá-lo]. O distribuidor corre todo o risco, e o risco molda as cláusulas do contrato", diz.

Já no Brasil, "a maior parte do dinheiro de um filme vem do produtor. Num longa de R$ 10 milhões, um distribuidor pode colocar até R$ 3 milhões [usufruindo da lei de incentivo ao audiovisual] e o produtor, até R$ 7 milhões".

"O p&a é pequeno no Brasil. 'Tropa de Elite' [2007], que custou R$ 11 milhões, teve R$ 1 milhão de p&a. Houve muito mais dinheiro colocado pelo produtor do que pelo distribuidor. Isso é verdade para todos os filmes. O contrato feito entre o produtor e o distribuidor no Brasil é igual ao norte-americano. Na minha opinião, há uma distorção aí", afirma Padilha.

Para testar um modelo que "modifica as relações de força econômica entre a produção e a distribuição", Padilha abriu mão de um distribuidor para "Tropa de Elite 2". Decidiu lançar o filme com o selo de sua produtora, a Zazen, e contratou um "coordenador de lançamento", o especialista em distribuição Marco Aurélio Marcondes.

A performance de "Tropa de Elite 2" nos cinemas vem se configurando como um êxito sem precedente recente no mercado brasileiro. "Queremos que todo mundo veja os números dessa experiência. Contratamos uma auditoria. No final, teremos um relatório para mostrar o retorno que isso dá. Se funcionar, poderá servir de substrato para uma política pública. O governo olha e diz: 'De fato, esse modelo é legal. Vamos mudar as leis.'"

Antes de levar a discussão ao governo, Padilha buscará apoio de seus pares. "Funcionando, vou passar a mão no telefone, ligar para os produtores brasileiros, para a Total [da franquia "Se Eu Fosse Você"], a Lereby [de Daniel Filho], a O2 [de Fernando Meirelles] e propor que a gente se junte e faça uma distribuidora. Estou otimista", diz.

Jorge Peregrino, executivo da Paramount, que distribuiu "Tropa de Elite" em 2007, disse à Folha que desconhece os termos da proposta de Padilha e, por isso, prefere não comentá-la. Manoel Rangel, presidente da Agência Nacional do Cinema, diz que, "se essa experiência for um grande sucesso, todo mundo, inclusive o governo, vai ter que parar para ouvir o José Padilha".


Fonte: Silvana Arantes/Editora-adjunta da Folha Ilustrada


Foto: Divulgação

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Smartphones substituem GPS nos carros

Novas tecnologias que permitem que celulares sejam usados como GPS avançaram ainda mais, o que pressiona as fabricantes de aparelhos de navegação embutidos.O grupo do setor automobilístico alemão Consumer Electronics for Automotive (CE4A) apresentou um novo padrão para a tecnologia, que vem ganhando força com incentivo da Nokia, maior fabricante de celulares do mundo.

A indústria de aparelhos de navegação, liderada pelas europeias TomTom e Garmin, levou um duro golpe da concorrência de smartphones com GPS.Quando este novo padrão for incluído em automóveis – algo que deve acontecer a partir do ano que vem –, ele permitirá que consumidores simplesmente conectem seus smartphones ao carro, sem que tenham maiores problemas para configurar seus aparelhos de navegação, além de terem acesso a outras funções de seus celulares através de uma tela embutida no veículo.

O uso amplo da tecnologia ainda deve levar um tempo, segundo analistas e executivos do setor."O impacto imediato disso será limitado, mas se o consumidor tiver uma experiência positiva com o uso do celular para navegação no carro, isso elimina a necessidade de um aparelho separado", disse o analista Tim Shepherd, da Canalys.A Navteq, maior empresa de mapeamento digital do mundo, afirmou que vê um grande interesse pela tecnologia na indústria.

Fonte: Reuters
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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Preconceitos dificultam tratamento do transtorno bipolar

Crenças sobre o transtorno bipolar causam baixa adesão dos pacientes ao tratamento. Há quem creia que a doença é só um problema emocional, e que remédios fazem mais mal do que bem. São mitos endossados por quase metade dos doentes e familiares, diz pesquisa do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da USP.

Foram avaliados frequentadores de encontros no instituto: 40% têm crenças errôneas sobre a natureza da doença, o papel da família e os efeitos da medicação. A doença se caracteriza por crises de euforia e depressão. Em geral, surge na adolescência ou início da vida adulta e tem forte componente genético.

"Foi uma surpresa encontrar essas crenças em pessoas que frequentam encontros psicoeducacionais", diz Ricardo Moreno, diretor do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do IPq.

ALIANÇA TERAPÊUTICA

Moreno afirma que o controle do transtorno depende de aliança terapêutica com o paciente e parentes. "Qualquer interferência, seja da crença do paciente ou da família, pode levar à interrupção do tratamento". "É bem comum que o paciente abandone o tratamento por não acreditar na doença", reforça a psiquiatra Thaís Zélia dos Santos, da Santa Casa de São Paulo.

O tratamento inclui remédios para estabilizar o humor. "O medicamento é essencial e para a vida toda. Os pacientes me perguntam se vão virar escravos. Eu digo: quem tem depressão ou mania não tem liberdade, tem um sofrimento que não controla e um comportamento que traz consequências."

Sem tratamento, bipolares podem levar vida normal por períodos, já que a doença é cíclica. Só que vão acumulando danos nas relações. A doença não tem cura. "Precisamos combater a ignorância, o preconceito e o estigma. Preconceito e estigma começam no próprio indivíduo e na família. Eles precisam mudar a atitude, e não esperar que o mundo se transforme", diz Moreno.

Fonte: Gabriela Cupani/Folha de S.Paulo
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