segunda-feira, 17 de junho de 2013

Miles Davis: um astro difícil até mesmo para ser contado em película



Reproduzir com um mínimo de verossimilhança as notas inventadas por Miles Davis (1926-1991) é hoje o menor desafio de Don Cheadle em seu empenho para levar às telas, como diretor, um filme sobre o monstro sagrado do jazz. O que falta ao ator americano de 48 anos é dinheiro para filmar a história. Cheadle evita falar em valores. Mas estima-se, na imprensa americana, que ele precise de US$ 20 milhões para reconstituir os EUA de 1979 em um drama musical sobre um período de entressafra de Miles. Para cumprir o cronograma e estrear em 2014, Cheadle está à caça de recursos.

"Apesar da força do nome Miles Davis, ninguém quer financiar um projeto que foge do óbvio. Meu interesse não é fazer uma cinebiografia, e sim uma ficção com cara de filme de gângster sobre um período de sua vida envolto em mistério", conta Cheadle, em cartaz no Brasil em “Homem de Ferro 3”, como o coronel James Rhodes, amigo de Tony Stark (Robert Downey Jr.).

O papel é apenas uma das frentes milionárias com as quais o ator se envolveu na última década. Fora ter participado da trilogia “Onze homens e um segredo”, de Steven Soderbergh, ele brilha na TV como protagonista da série “House of lies” (exibida aqui pela HBO), que lhe rendeu um Globo de Ouro este ano. De quebra, traz no currículo uma indicação ao Oscar por seu desempenho em “Hotel Ruanda” (2006) e a reputação de ser um dos melhores intérpretes da sua geração.

"O importante de estar em franquias e seriados que fazem sucesso no exterior é que, hoje, o peso mais determinante no futuro de um projeto cinematográfico americano é sua capacidade de ser comercializado em países estrangeiros. Se você fica conhecido fora e atrai o interesse dos distribuidores internacionais, seus projetos ganham novos meios de serem viabilizados", diz Cheadle.

No filme, sem título por enquanto, o músico, com 53 anos, decide se afastar dos palcos após o sucesso do LP “Bitches brew” (1970). Esboçada por Cheadle com base em fatos, a história se passa em 1979, mostrado como o fim de um período sabático na vida profissional de Miles, ainda à sombra da cocaína.
"Quero contar uma aventura que se passe em poucos dias, tirando Miles da condição de mito e trazendo sua figura para uma trama de reviravoltas. Em 1997, quando fiz “Politicamente incorreto”, dirigido pelo Warren Beatty, ele ficava falando que eu tinha olhar talhado para a direção e aquilo me estimulou. Como tenho uma ligação forte com a música, compondo e tocando sax, vi que era o momento", diz o ator, que também irá protagonizar o longa-metragem.

Há cinco anos, Cheadle embarcou em um projeto nunca realizado com o carioca José Padilha. O realizador de “Tropa de elite” foi cotado para dirigir o ator em uma adaptação do livro “Marching powder: a true story of friendship, cocaine and South America’s strangest jail”, relato autobiográfico do inglês Thomas McFadden, preso na Bolívia por tráfico e enviado para uma prisão onde imperava a corrupção.

"Não tivemos meios para rodar esse projeto, mas nunca perdemos o interesse nele. José é muito talentoso. Ainda quero fazer esse filme com ele", diz Cheadle.



Fonte: Rodrigo Fonseca

Agência Globo/Rio de Janeiro/RJ
Foto: Divulgação