quarta-feira, 28 de abril de 2010

Salve the rider on the stom

Sábado passado assisti pela primeira vez em DVD um dos filmes que mais marcou a minha geração e que continua, como disse o diretor Oliver Stone, um "assalto a todos os sentidos": The Doors. Acho que essa foi a vez de número 50, mas oito anos após a última audição.

Muita loucura, poesia, rock, diversão e entretenimento nesse clássico cult. Um show nas telas a atuação de Val Kilmer no papel título e lindas canções e imagens de gabarito para contar um pouco do "Rei Lagarto". Nos extras é que percebi que Stone poderia ter ido muito além do que propunha.

Uma das cenas cortadas da edição mostra o que seria um final alternativo e mis justo para o filme. É linda a penúltima cena, quando a câmera percorre o cemitério Pére Lachaise, em Paris, e mostra os túmulos de Oscar Wilde, Bizet, Moliére, Rossini e, por fim, Jim Morrison.

Enquanto o fundo musical tem a melodia de "Adágio" tocada pelos Doors e Morrison declamando "The severed garden", a tomada se aproxima, aproxima, aproxima e mostra o que seria a última morada do bardo, velas, flores e seu busto em pedra.

Stone deveria ter usado a cena que aperece no DVD extra, que mostra o cemitério e depois Jim abrindo uma porta e sendo conduzido pela luz até uma platéia que parece estar em outro plano de existência. A cena é isso mesmo: Jim saiu da vida para entrar na eternidade e o diretor não sacou que seria esse o final mais adequado ao mito.

Mas deixa pra lá. The Doors foi continua sendo um filmaço, o relato sensível e comovente da trajetória meio Orfeu, meio Dionísio, um pouco Nietzche, um tanto Baudelaire e quem sabe Rimbaud, em seu hedonismo adolescente, de Jim Morrison. Salve Morrison, The Rider on the storm.

Sérgio Augusto

Editor da Academia da Palavra

terça-feira, 13 de abril de 2010

A extinção inglória dos dinossauros de plantão

Fala-se muito hoje em gestão de pessoas, potencialização de resultados, superação de metas, liderança e outros termos que tais. E diante de tantas novidades e palavreados bonitos, percebo algo interessante e, acima de tudo, importante: os chefes intimidadores, chantageadores e que se acham acima do bem e, especialmente, do mal, estão com os dias contados e sua extinção tem tudo pra ser tão inglória quanto a dos dinossauros.

É verdade! Tem muito incompetente por aí que, por ter um cargo de chefia, acredita que vai viver na impunidade a vida inteira. As escolas e universidades, por outro lado, já preparam os alunos para não aceitar constrangimentos vindos do "andar de cima" e a geração que chega ao mercado, por sua vez, já bate de frente e desafia esses dinossauros. O clima fica pesado, é verdade, mas isso já demonstra que o cara que não tratar de se reciclar tende a sumir como a inútil poeira que depois de se misturar a outras substâncias se torna a chuva ácida.

Tive um chefe que certa vez me disse uma frase até hoje inesquecível, uma verdadeira lição de vida: "Sérgio, eu sei que o salário que lhe pago não é o melhor do mundo. Mas você é pago para isso, para pensar". É claro que o repórter aqui ficou lisonjeado; imagina o meu "drama": posso me dar ao luxo de pensar (o que é privilégio de poucos) e ainda ser pago pra isso! Talvez tenha dito isso para menosprezar, mas o efeito foi contrário. E hoje a empresa dele está parada no tempo e no espaço; todas as outras concorrentes que vieram depois cresceram, enquanto aquela, há muito, teima em acreditar que ainda existe. É a vida, irmão. É a vida.

Portanto, os intimidadores de plantão que abram os olhos, pois além de ultrapassados, não deixam boas lembranças ou impressões naqueles que comandam. Bola pra frente rapaziada, e vamos tratar de abreviar, de uma vez, a vida útil desses animais caquéticos.

Saudações

Sérgio Augusto

Editor da Academia da Palavra

domingo, 4 de abril de 2010

Os semi-deuses da bola quadrada

Os clubes de futebol se esforçam, pagos salários inacreditáveis aos jogadores, investem milhões de dólares ou euros em marketing pessoal e os atletas parecem fazer o contrário: cada vez mais se mantém longe dos torcedores, como se tivessem alguma doença contagiosa. Não vou me alongar e para isso vou citar dois exemplos aqui mesmo da minha cidade, Belém do Pará.

Palmeiras e Santos vieram aqui jogar contra Paysandu e Remo, respectivamente, pela Copa do Brasil. Os torcedores dos times paulistas, que são muitos por estas bandas daqui, fizeram fila, organizaram charangas, um grande carnaval no aeroporto, à espera das duas equipes. O Palmeiras veio primeiro e, assim que o avião pousou na pista, a festa aumentou.

Pra decepção de todo mundo um ônibus entrou na pista e pegou os jogadores ali mesmo, saindo, literalmente, pela porta dos fundos. O máximo que alguns poucos "privilegiados" conseguiram foi pegar autógrafos no saguão do hotel onde a delegação alviverde ficou hospedada.

Dias depois foi a vez dos Meninos da Vila baixarem por aqui, com seu futebol alegre, contagiante, e as coreografias para comemorar gols que já viraram marca registrada. Parecia replay da "bola nas costas": ônibus na pista, saída pelos fundos, nada de autógrafos e uma verdadeira odisséia pros caras poderem falar à imprensa local.

E, há três dias, aquela situação mais que constrangedora da delegação santista quase inteira ficar no ônibus e se recusar a entrar num lar espírita, em São Paulo, onde crianças portadoras de necessidades especiais, que nos jogadores enxergam verdeiros super-heróis, os esperavam ansiosamente. Desculpas: a maioria dos jogadores é evangélico e receou entrar em um lugar cujos ritos religiosos são diferentes do que eles praticam. E tem mais: testemunhas dizem que dentro do ônibus do time um pagodão rolava solto, enquanto as crianças se lamentavam na casa beneficiente.

Aí pergunto: qualé a desses jogadores? Que eu saiba Pelé, Zico, Raí, Dirceu, Éder Alexo, Romário, Roberto Dinamite e outros craques de verdade nunca se recusaram a atender os fãs, muito menos saíam pela porta dos fundos de hotéis e aeroportos para evitar contato com os torcedores. Vou mais além: nem no Santos, nem no Palmeiras há jogadores do quilate desses que mencionei acima.

Eu mesmo, quando garoto, ia pra porta do hotel pra ver de perto Zico, Romário, Raí e nunca vi os caras ignorando os fãs. O Santos de hoje tem lá seus bons valores, mas no caso de um Zico, um Romário ou um Pelé, seriam honrosamente reservas dos mitos. Será que pensam que já são maiores que craques de verdade, no caso dentro e fora dos gramados? Pois pra mim esse tipo de atitude arrogante é coisa de semi-deus da bola quadrada

Fica o questionamento desse cronista esportivo que vos escreve.

Saudações



Sérgio Augusto



Editor da Academia da Palavra